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A cidade e as serras
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Eil-a agora coberta de moradas em que elles se não abrigam; armazenada de estofos, com que elles se não agasalham; abarrotada de alimentos, com que elles se não saciam! Para elles só a neve, quando a neve cáe, e entorpece e sepulta as creancinhas aninhadas pelos bancos das praças ou sob os arcos das pontes de Paris... A neve cáe, muda e branca na treva: as creancinhas gelam nos seus trapos: e a policia, em torno, ronda attenta para que não seja perturbado o tépido somno d’aquelles que amam a neve, para patinar nos lagos do Bosque de Bolonha com pelliças de tres mil francos. Mas quê, meu Jacintho! a tua Civilisação reclama insaciavelmente regalos e pompas, que só obterá, n’esta amarga desharmonia social, se o Capital dér ao Trabalho, por cada arquejante esfôrço, uma migalha ratinhada. Irremediavel é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe péne! A sua esfalfada miseria é a condição do esplendor sereno da Cidade. Se nas suas tigellas fumegasse a justa ração de caldo — não poderia apparecer nas baixellas de prata a luxuosa porção de foie-gras e tubaras que são o orgulho da Civilisação. Ha andrajos em trapeiras — para que as bellas Madamas d’Oriol, resplandecentes de sêdas e rendas, subam, em doce ondulação, a escadaria da Opera. Ha mãos