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A cidade e as serras

a Democracia que se não lava, os sacudia risonhamente, com um bater de leque. Na Semana Santa juntava ás rendas do chapeu a Corôa amarga de espinhos — por serem esses, para a gente bem-nascida, dias de penitencia e dôr. E, deante de todo o Livro ou de todo o Quadro, sentia a emoção e formulava finamente o juizo, que no seu Mundo, e n’essa Semana, fôsse elegante formular e sentir. Tinha trinta annos. Nunca se embaraçára nos tormentos d’uma paixão. Marcava, com rigida regularidade, todas as suas despezas n’um Livro de Contas encadernado em pellucia verde-mar. A sua religião intíma (e mais genuina do que a outra, que a levava todos os domingos á missa de S. Philippe du Roule) era a Ordem. No inverno, logo que na amavel cidade começavam a morrer de frio, debaixo das pontes, creancinhas sem abrigo — ella preparava com commovido cuidado os seus vestidos de patinagem. E preparava tambem os de Caridade — porque era boa, e concorria para Bazares, Concertos e Tombolas, quando fossem patrocinados pelas Duquezas do seu «rancho». Depois, na primavera, muito methodicamente, regateando, vendia a uma adela os vestidos e as capas de inverno. Paris admirava n’ella uma suprema flôr de Parisianismo.

Pois respirando esta macia e fina flôr passamos