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A cidade e as serras

— É um azinheiro, Jacintho.

Já a tarde cahia quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adoravel paz do céo, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as cousas com um liso e leve affago, penetrava tão profundamente Jacintho, que eu o senti, no silencio em que cahiramos, suspirar de puro allivio.

Depois, muito gravemente:

— Tu dizes que na natureza não ha pensamento...

— Outra vez! Olha que massada! Eu...

— Mas é por estar n’ella supprimido o pensamento que lhe está poupado o soffrimento! Nós, desgraçados, não podemos supprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que elle se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realisam, aspirando a certezas que nunca se attingem!... E é o que aconselham estas collinas e estas arvores á nossa alma, que vela e se agita: — que viva na paz d’um sonho vago e nada appeteça, nada tema, contra nada se insurja, e deixe o Mundo rolar, não esperando d’elle senão um rumor de harmonia, que a emballe e lhe favoreça o