muitos desvarios, tem a humilde musa que visita a cabana do lavrador ou a officina do artista.
Apesar da defeza de Ermelinda, Angelo não perdoou ao auto.
— Sabes que mais? Não decores isso — disse-lhe elle resolutamente.
— Meu pae quer.
— O que é que quer teu pae?
— Quer que eu entre no auto.
— E has de entrar. Quem te diz que não?
— E quer que seja a Fama.
— E has de ser a Fama.
— E não hei de falar?
— Has de falar. Tinha que vêr uma Fama que não falasse. Para que lhe serviriam as cem bôcas?
— Então?
— Então; é que não é forçoso que digas o que ahi está.
— E que hei de eu dizer?
— Outra coisa.
Ermelinda olhava Angelo admirada, sem conseguir comprehendel-o.
— Outra coisa! repetiu ella, instinctivamente.
— Olha, proseguiu Angelo. — D’aqui até chegar o dia do auto vae muito tempo. Eu te darei outros versos para estudares, em logar d’esses.
— E onde os tem?
— Eu os procurarei. Não digas tu nada. Basta que no dia recites, em vez d’esses, os que eu te der!...
— Mas que dirá meu pae e o sr. Pertunhas?
— O mestre de latim? Pois que tem elle com o auto?
— É quem ensina como a gente ha de dizer.
— Ah! sim? Pois para que elle nada diga, guarda para a occasião os versos que eu te arranjar. Até ha de ter graça vêr a cara com que elles ficarão todos, quando lhes sair uma coisa bem differente do que esperam.