minha mãe tudo mudou. Pela primeira vez respondi á interrogação, que havia tanto tempo dirigia a mim proprio, e consegui por fim responder: «Não». Eis o segredo do meu passado.
— E por que disseste «Não»?
— Porque vi que toda a minha vida era para a consagrar a um sonho; que o sonharia no altar, no pulpito e no confessionario; que para toda a parte me seguiria a imagem, a que eu já não podia renunciar, e a qual então já não contemplaria sem remorsos, como agora o faço. Foi por isto.
— Só? Não te illudirás a ti mesmo, Augusto? Repara bem, que n’isso pode ir a tua felicidade! Estás bem certo de que não ha uma esperança dentro do teu coração?
— Se a tivesse...
Ia a continuar, quando julgou ouvir o rumor de passos na rua. Cêdo batiam na porta duas leves pancadas, e uma voz dizia de fóra:
— Está acordado ainda, tio Vicente?
O herbanario trocou um olhar com Augusto. A voz era de Magdalena.
Augusto ergueu-se com presteza. O herbanario quiz retêl-o.
— Onde vaes?
— Deixe-me sair. Não poderia vêl-a agora. Não estou preparado com a minha indifferença.
— Pobre mascara! — N’esse caso sae pelo quintal.
— Tio Vicente! — repetiu Magdalena, de fóra.
— Eu vou, minha ave nocturna; eu vou já. Espera — continuou em voz baixa para Augusto: — dá-me a tua palavra que não escutarás.
— Dou; mas... promette que nada lhe dirá?
— Eu?!... Louco! Assim te pudésse fazer esquecer, quanto mais... Adeus!
Depois de assegurar-se de que Augusto saira pelo lado do quintal, o herbanario foi abrir a porta da rua á morgadinha.