sereno, e em tom desaffectadamente reprehensivo e ao mesmo tempo placido, disse para toda aquella gente:
— Não vêem que iam matando esta creança?
Esta simples acção, e estas palavras da morgadinha, produziram mais effeito do que todos os arrazoados e todas as resistencias. Havia n’ellas claros indicios de uma indole generosa, e a generosidade foi e será sempre um dos mais poderosos elementos para dominar e commover as massas. Sabem-o os especuladores politicos, que tanto se esforçam por simulal-a, quando precisam do povo.
— Quem foi que atirou a pedra? — perguntou um.
— Temos tolice!
— Nada de pedra, olá!
— Então isto é coisa de garotos!
Estava a quebrar-se a furia da onda popular. Os que antes gritavam «morra» achavam já reprehensivel a primeira tentativa de lapidação. E comtudo era a pedra a arma mais prompta para executar a sentença. Era evidente que o maior perigo passára e que um pouco de prudencia resolveria a crise.
O peor era que Henrique possuia em pequeno grau essa qualidade, e, irritado pelo insulto, ia commetter talvez algum acto irreflectido, apesar dos esforços de Christina e de Torquato para o reprimirem.
Uma circumstancia, porém, veio inesperadamente em auxilio d’elles, e concorreu para dissipar a tempestade.
Foi o caso que, depois de ser posto fóra da igreja o Zé-P’reira, que, pelas razões que o leitor já sabe, e inda mais depois do mallogro da interpellação ao missionario, não olhava com bons olhos para este, veio desconsoladamente sentar-se no adro, sobre os degraus de um cruzeiro, tendo ao seu lado o popular tambor, instrumento das