se não soubesse cá que todos os dias dá o seu passeio ao fim da tarde; sem falar nas quintas-feiras e domingos...
Augusto não respondeu.
—Pois olhe que todos aquí lhe querem bem—disse D. Dorothéa.
—Assim o creio, minha senhora.
—Eu fui muito amiga de sua mãe, que era uma santa creatura. Inda me parece que a estou a vêr ahi sentada, com aquella capa rôxa que trazia. A alegría d’ella, quando o Augustito veio de Lisboa! Vi-a chorar e agradecer a Deus o filho que lhe tinha dado... Todo o seu desejo era não morrer antes de o vêr padre; queria pelo menos uma vez commungar das suas mãos... Coitada!... Não lhe concedeu isso o Senhor, que bem cêdo a chamou a si.
E continuou para Augusto:
—Quando morreu a morgada, a madrinha da Lenita, e que me contaram aquí do legado que ella deixára, eu disse logo: «Ora a alma tem ella no Céo por isto, quando por maïs não seja». Porque, emfim... só quem não conheceu sua mãe é que não diria outro tanto. Verdade é que elle não chegou a aproveitar... mas... Emfim cada um sabe o que lhe convem e o que lhe não convem. E eu digo, a vida de sacerdote é muito bonita, isso é, mas... não havendo inclinação...
Augusto estava impaciente com a loquacidade da senhora de Alvapenha.
—O sr. Henrique de Souzellas está em casa?—perguntou elle, logo que pôde.—Desejava muito falar-lhe.
—Ai, sim? quer falar com elle? Eu acho que... Parece-me... Sim, elle deve estar no quarto... Ha de estar a ler. Não tem outra vida aquelle rapaz! Uma coisa assim! Por maïs que eu lhe diga: «Henriquinho, olha que isso faz-te mal...» É o mesmo que nada. Só ler, ler, ler, que é uma coisa por maior.