Henrique pediu vinho, para pedir alguma coisa, e não obstante estar firmemente resolvido a não lhe tocar.
O Canada trouxe-lhe um copo largo para deante d’elle, e de motu-proprio associou-lhe algumas azeitonas, que recommendou como excitadoras da sêde.
Henrique pediu lume para accender um charuto, e pondo-se a fumar correu a vista pelos grupos que enchiam a sala. A effervescencia dos animos havia abatido com o chegar de Henrique, como a da agua em que se lançasse uma pedra de gêlo.
Reinava, porém, um rumor surdo, um cochichar pouco tranquillisador, e que ameaçava degenerar em maior tormenta.
O brazileiro escondia-se por detraz de uns homens do povo, para não ser visto; o sr. Joãozinho olhou para Henrique, como se o não conhecesse, e conversava em voz baixa com o seu camarada Cosme, o qual fitava no recem-chegado olhares sombrios e ameaçadores.
Henrique, ainda que interiormente não tranquillo, sustentava-os sem desviar os seus, e continuava fumando quasi provocadoramente. Pouco a pouco subiu de tom a conversa dos dois, assim como a dos outros grupos.
— É preciso ensinar estes espiões — dizia uma voz audivelmente.
— Que quererá d’aqui este figurão? — perguntava outro.
— Era bem feito que lhe ensinassem a não se metter com a nossa vida...
O morgado, cada vez mais excitado pelo vinho, cruzou os braços sobre a mesa, e com o corpo inclinado para deante e os olhos abertos para Henrique, principiou a dizer, retardando-se-lhe já algum tanto a voz nas fauces:
— Eu se sei que ha alguem que me anda a seguir os passos e a espiar, sempre lhe dou uma lição,