Deus sabe que scenas de violencia se seguiriam a está ordem, se um novo facto não viesse desviar as attenções e modificar diversamente o animo popular.
Um homem, que parecia chegar de longa jornada, approximára-se do cemiterio, cada vez maïs pressuroso á medida que se affirmava nos grupos alli reunidos.
Entrou justamente quando a furia popular crescia maïs impetuosa.
A figura da morgadinha, em pé sobre os degraus do tumulo, abraçada a elle, dominava toda aquella multidão.
Ao descobril-a a distancia, o homem que dissemos soltou uma exclamação, como de quem tinha comprehendido où adivinhado a significação d’aquella scena; e apressando ainda maïs os passos achou-se, dentro em pouco, no logar do motim.
Era tempo.
A populaça allucinada ia talvez exercer algumas d’essas irreflectidas violencias, que tantas vezes maculam e deshonram a causa do povo nas luctas em que elle toma parte.
—Que é isto aquí?—disse o homem, rompendo com os braços potentes a onda que se lhe antolhava.
Á rudeza do impulso ninguem resistiu; em pouco tempo abriu caminho até ao meio do circulo.
Uma só voz correu por as differentes pessoas do grupo dos amotinados.
—O Herodes... É o Herodes!...—diziam, afastando-se.
Effectivamente era o Cancella o homem que tinha chegado.
Obtendo fiança, graças á intervenção do conselheiro, voltava á terra, ancioso por ver e beijar a filha, cuja ausencia fôra a unica dor que o atormentara.
O desgraçado não sabia ainda da sorte d’ella.