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minha amizade e o meu reconhecimento pensam diversamente.

— Perdão; não percamos tempo em cumprimentos. A fortuna que lhe deixara seu pai e que ele ajuntara durante trinta anos de trabalho e de privações, consistia em cem apólices e na sua casa comercial, que representava um capital igual, ainda mesmo depois de pagas as dívidas.

— Sim, senhor, graças à sua inteligente administração, achava-me possuidor de duzentos contos de réis, a que dei bem mau emprego, confesso.

— Não desejo fazer-lhe exprobrações; o senhor não é mais meu pupilo, é um homem; já não lhe posso falar com autoridade de um segundo pai, mas simplesmente com a confiança de um velho amigo.

— Mas um amigo que me merecerá sempre o maior respeito.

— Infelizmente o senhor não tem dado provas disto; durante perto de um ano acompanhei-o como uma, sombra, importunei-o com os meus conselhos, abusei dos meus direitos de amigo de seu pai e tudo isto foi debalde.

— É verdade, disse o moço, abaixando tristemente a cabeça, para vergonha minha é verdade!

— A vida elegante o atraía, a ociosidade o fascinava; o senhor lançava pela janela às mãos cheias o ouro que seu pai havia ajuntado real a real.

— Basta; não me lembre esse tempo de loucura que eu desejava riscar da minha vida.

— Conheço que o incomodo; mas é preciso. Durante este primeiro ano, em que ainda tive esperanças de o fazer voltar à razão, não houve meio que não empregasse,