Página:A viuvinha. Cinco minutos.pdf/46

Wikisource, a biblioteca livre

— Pois bem; estás perdoado.

— Não; não há de ser assim; de joelhos a teus pés.

E o moço ajoelhou-se diante de sua mulher.

— Criança! disse Carolina, sorrindo.

— Agora dize que me perdoas!

— Perdôo-te e amo-te! respondeu ela, cingindo-lhe o pescoço com os braços e apertando a sua cabeça contra o seio.

Jorge ergueu-se calmo e sossegado; porém ainda mais pálido.

Carolina deixou-se cair sobre a conversadeira; suas pálpebras cerravam-se a seu pesar; pouco depois tinha adormecido.

O moço tomou-a nos braços e deitou-a sobre o leito, fechando as alvas cortinas; depois foi sentar-se na conversadeira e colocou o seu relógio sobre uma banquinha de charão.

Assim, com a cabeça apoiada sobre a mão e os olhos fitos nas pequenas agulhas de aço que se moviam sobre o mostrador branco, passou duas horas.

Cada instante, cada oscilação, era um ano que fugia, um mundo de pensamentos que se abismava no passado.

Quando o ponteiro, devorando o último minuto, marcou quatro horas justas, ele ergueu-se.

Tirou do bolso uma carta volumosa e deitou-a sobre o consolo de mármore.

Abriu as cortinas do leito e contemplou Carolina, que dormia, sorrindo talvez à imagem dele, que em sonho lhe aparecia.

O moço inclinou-se e colheu com os lábios esse sorriso; era o seu beijo nupcial.