distava da miséria. Entre as quatro paredes que compreendiam o espaço de uma braça esclarecido por uma janela estreita, via-se a cama de lona pobremente vestida, uma mala de viagem, a carteira e o tamborete.
Nos umbrais da porta, dois ganchos que serviam de cabide. Na janela, cuja soleira fazia as vezes de lavatório, estavam o jarro e a bacia de louça branca, uma bilha d'água e um copo com um ramo de flores murchas. Junto à cama, em uma cantoneira, um castiçal com uma vela e uma caixa de fósforos. Sobre a carteira, papéis e livros de escrituração mercantil.
Era toda a mobília.
Quando, passado um instante, o moço ergueu a cabeça, tinha o rosto banhado de lágrimas.
— Era um crime, murmurou ele, mas era um grande alívio!... Coragem!
Enxugou as lágrimas e, recobrando a calma, abriu a carteira e dispôs-se a trabalhar. Tirou do bolso um maço de títulos e bilhetes no valor de muitos contos de réis, contou-os e escondeu tudo em uma gaveta de segredo; depois tomou nos seus livros notas das transações efetuadas naquele dia.
Fora um dia feliz.
Tinha realizado um lucro líqüido de 6:000$000. Não havia engano; os algarismos ali estavam para demonstrá-lo: os valores que guardava eram a prova.
Mas essa pobreza, essa miséria que o rodeava e que revelava uma existência penosa, falta de todos os cômodos, sujeita a duras necessidades?
Seria um avarento?
Era um homem arrependido que cumpria a penitência do trabalho, depois de ter gasto o seu tempo e os seus