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variar os ornatos e compor novas figuras para as cetras e tabões, entrou a banzar.

Nesse ponto, rondando o cartório com um olhar de esguelha, como era seu costume, o Sebastião Ferreira descobriu o Ivo na postura de um cismático, imóvel, com os cotovelos fincados na mesa, a cabeça presa entre as mãos espalmadas e os olhos pasmados para o teto.

— Hum! fez o tabelião sorvendo uma pitada.

Na sua mocidade gostava o Freire de caçar, e tinha seus galgos e perdigueiros. Dai veio achar ele certa analogia entre um escrevente de cartório e um cão de caça. Ensinara-lhe a experiência que o nariz do bom escrevente deve sempre cheirar o papel, como a venta dó bom podengo farisca o chão. Escrevente que anda com o nariz ao vento, perdeu o rumo, e não há que fiar nele.

Em vista desta regra cinegética aplicada ao tabelionato, o Sebastião Ferreira ergueu-se devagarinho e rodeando por detrás das estantes, na ponta dos pés, achegou-se ao Ivo pelas costas; mas recuou espavorido quando viu o grande M historiado que borrava toda a folha de papel destinada a um edital!

Horrível profanação! Escândalo inaudito, e que