Página:Alfarrabios.djvu/301

Wikisource, a biblioteca livre

tocava aos marujos da escuna, que mais ou menos andavam ao corrente do que havia. Se alguém lhes falava de fazerem-se ao largo, respondiam a rir, que o comandante encalhara n'água doce.

Muito tempo já era passado depois de sua última viagem, quando Aires de Lucena, querendo acabar com a incerteza em que vivia, animou-se a dizer à filha adotiva de Duarte de Morais, uma noite ao despedir-se dela:

— Maria da Glória, tenho um segredo para contar-lhe.

O lábio que proferiu estas palavras era trêmulo, e o olhar do cavalheiro retirou-se confuso do semblante da menina.

— Que segredo é, Senhor Aires? respondeu Maria da Glória também perturbada.

— Amanhã lho direi.

— Olhe lá!

— Prometo.

No dia seguinte por tarde encaminhou-se o corsário para a casa de Duarte de Morais; ia resolvido a declarar-se com Maria da Glória e confessar-lhe o muito que a queria para sua esposa e companheira.

Levava o pensamento agitado e o coração