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dia um dos moços do tabelião, ou rato do cartório, como dizia pitorescamente o poviléu.

O rosto fresco e rosado que salpicavam as chispas de um sorriso zombeteiro, e a malícia não vesga ou rebuçada, mas louçã e garrida que lhe fervilhava nos olhos travessos, essa flor de uma mocidade isenta e viçosa, não a fanara ainda o bafio do cartório.

Ainda aquela atmosfera poenta não ressequira sua cútis, dando-lhe o tom desbotado do almaço; nem a fadiga da vista lhe tingira de bistre as grandes olheiras como sucedia com seus companheiros em cujo número os havia alias de pouca mais idade.

Era justamente a ausência absoluta dessa máscara de cera que tanto inquietava o tabelião e enchia-lhe o ânimo de suspeitas. Aquela massa não lhe parecia da espécie de que se fazem escreventes; muito curtida e sovada talvez não desse ainda assim para um mau carregador de autos

— Se me sai daqui um dos tais garotos, que vivem a estropiar a escrita pira fazer uns pedaços de regras, que lá eles lhes chamam versos?

Era esse o grande susto do tabelião, que tinha a trova em conta de heresia e estremecia de horror com a idéia de lhe estar dentro do cartório