Página:Ao correr da pena.djvu/263

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Tratar-se-á de uma outra questão jurídica e administrativa; far-se-ão algumas interpelações, e nada mais.

Quatro meses depressa se passam; e os ministros, que gostam tanto do gabinete, mas que têm uma ojeriza particular às câmaras, tomarão um meio termo, e decidirão nos salões com os deputados as questões mais importantes da administração.

O salão é um terreno neutro entre a câmara e o gabinete. No gabinete só entram os íntimos, aqueles que estão no segredo do dono da casa e que gozam da sua familiaridade. A câmara é o aposento onde ordinariamente têm lugar os arrufos e as zanguinhas do marido com a mulher, onde de ralha e se passam algumas horas de mau humor.

No salão, porém, recebem-se todas as visitas de cerimônia ou de intimidade; dão-se bailes, reuniões dançantes e concertos. Conversa-se ao som da música; conferencia-se a dois no meio de muita gente, de maneira que nem se fala em segredo, nem em público.

Se a palestra vai bem, procura-se alguma chaise-longue num canto da sala, e, a pretexto de tomar sorvete ou gelados, faz-se uma transação, efetua-se um tratado de aliança.

Se a conversa toma mau caminho, aí aparece uma quadrilha que se tem de dançar, uma senhora a que se devem fazer as honras, um terceiro que chega à propósito; e acaba-se a conferência, e livra-se o ministro do dilema em que se achava, do comprometimento de responder sim ou não.

Um ministério prudente deve por conseguinte procurar sempre o salão antes de entrar na câmara, e isto até mesmo por uma analogia com o que se passa nas relações domésticas e na vida familiar.

Um namorado imprudente que, prescindindo das etiquetas, quisesse logo do primeiro dia penetrar na câmara de alguma beleza fácil que requestasse, corria seu perigo de ver-se obrigado a saltar pela janela, a quebrar uma perna, e talvez a ser agarrado pela polícia.

Ao contrário, um conquistador de tática, que primeiro se faz apresentar no salão, que concilia as boas graças da mamãe,