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Rio, 17 de junho.

Sexta-feira, por volta de oito horas, ia meu caminho para o Teatro Lírico, assistir à terceira representação da Ana Bolena, quando me entregaram uma carta que me era dirigida!...

Uma carta!...

De todas as espécies de escritos que eu conheço, a carta é sem dúvida a mais interessante, a mais curiosa, e sobretudo a mais necessária.

A carta é um livro numa folha de papel, é uma história em algumas linhas, um poema sem cantos; pode ser um testamento, uma confidência, uma entrevista, um desafio, uma boa notícia, ou o anúncio de uma boa desgraça.

É um pássaro, uma ave de arribação, que voa a longes terras, aos climas mais remotos para levar ao amigo ausente as palavras e os pensamentos da amizade ou do amor.

É uma espécie de fio elétrico que comunica através do espaço e da distância duas almas separadas por uma infinidade de léguas, dois homens que muitas vezes nunca se viram, e que entretanto se conhecem.

Quando deram este nome a esse pequeno paralelogramo de papel, que num minuto pode devorar uma fortuna colossal, foi por analogia que talvez tenha escapado a muita gente.