Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/159

Wikisource, a biblioteca livre

do tronco: e a planta não morre, apesar de lhe terem mutilado a haste e o renovo, o coração e a cabeça.

Assim foi Raquel. Tenra baunilha, que elevara-se à juventude florescente, a decepção cruel de um amor indigno lhe mutilou os dias já vividos, o passado; o desengano de outro amor não retribuído arrancou-lhe o futuro.

De toda a existência só ficou aquele fragmento, que a ventura iluminara um instante de seus esplendores; nele pois concentrou-se toda sua vitalidade; criou raízes nessas doces reminiscências; vegetou e floriu nelas como a baunilha no tronco amigo.

A porta do camarim entreabriu-se, e pela estreita fenda passou o raio vivo de um olhar cintilante, que percorreu o aposento. Então a porta foi a pouco e pouco silenciosamente afastando-se até dar passagem a uma original e sinistra figura de nosso conhecimento, a bruxa. Com a mesma sutileza, que empregara para entrar no aposento, resvalou pelo tapete e aproximou-se da linda judia, que tinha os olhos baixos e fitos no livro.

Raquel percebeu-a, sentindo o sopro da ardente respiração, que refrangido pelas folhas da Bíblia,