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LXXXIV

As águas donde quer, em rio ou lago,
Se as chegava a tocar com pé ligeiro,
Não pareciam do elemento vago,
Mas pedra dura, ou sólido terreiro,
Só com chamar seu nome, cessa o estrago,
Se o furacão com hórrido chuveiro,
Quando na nuvem, negra se levanta,
Ou derriba a cabana, ou quebra a planta.

LXXXV

Porém, negando às pregações o ouvido,
Vinha o caboclo do sertão mais bruto
Contra o justo Sumé, de Deus querido,
A matá-lo comê-lo resoluto.
Pudera ele fazer, sendo ofendido,
Que eles colhessem da cegueira o fruto;
Mas pede só prostrado a Deus que o c'roe,
E que a ignorância aos míseros perdoe.

LXXXVI

Os feros, pois, na fúria contumazes,
Tomam as frechas, e bramindo atiram;
Mas (quanto pelos teus, Tupá, não fazes!)
Contra quem atirou pelo ar se viram.
E nem assim se mostram mais capazes
Dos anúncios de paz que entanto ouviram.
Deixa-os Sumé, e um rio aborda cheio,
E só com pôr-lhe um pé partiu-o ao meio.