Página:Caramuru 1781.djvu/151

Wikisource, a biblioteca livre


XII

Porém já da fadiga desvelada
Cerrava Paraguassu seus olhos claros,
Tendo-a Diogo na fé mais confirmada,
Com responder prudente aos seus reparos,
Enquanto a bruta gente aprisionada,
Mostrando-se da vida nada avaros,
Dançam e bebem com tripúdio forte,
E esperam, com a boda, a cruel morte.

XIII

Gupeva triunfante na grã-taba
O infausto prisioneiro à morte guia,
E, antevendo que a vida se lhe acaba,
A mulher cada um lhe oferecia:
Trazem-lhe o peixe, as carnes, a mangaba,
Brindando-lhe o licor, que a taça enchia,
Até que quando menos se recorda,
Dois selvagens o prendem numa corda.

XIV

Soltas as mãos lhe ficam, que maneia,
Nem o tem mais que em meio da cintura
A soga de algodão, como cadeia,
Que de uma parte e de outra os assegura.
Qual leoa feroz na maura areia,
Quando o laço no ventre a tem segura,
Toda da fronte a cauda se retorce,
E ruge e vibra a garra, e o corpo torce.