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LXIII

Aqui da fronte o bárbaro desvia
Dos insetos coa mão a espessa banda;
E a Diogo, que assim se condoía,
Um sorriso em resposta alegre manda.
"De que te admiras tu? Que serviria
Dar ao vil corpo condição mais branda?
Corpo meu não é já; se anda comigo,
Ele é corpo em verdade do inimigo.

LXIV

O espírito, a razão, o pensamento
Sou eu e nada mais; a carne imunda
Forma-se cada dia do alimento,
E faz a nutrição, que se confunda.
Vês tu a carne aqui, que mal sustento?
Não a reputes minha: só se funda
Na que tenho comido aos adversários;
Donde minha não é, mas dos contrários.

LXV

Da carne me pastei continuamente
De seus filhos e pai; dela é composto
Este corpo, que animo de presente.
Por isso dos tormentos faço gosto.
E, quando maior pena a carne sente,
Então mais me consolo, do suposto
Do me ver no inimigo bem vingado,
Neste corpo, que é seu, tão mal tratado."