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IX

Da nova Lusitânia o vasto espaço
Ia a povoar Diogo, a quem bisonho,
Chama o Brasil, temendo o forte braço,
Horrível filho do trovão medonho;
Quando do abismo por cortar-lhe o passo
Essa fúria saiu como suponho,
A quem do inferno o paganismo aluno,
Dando o Império das águas, fez Netuno.

X

O grão tridente, com que o mar comove,
Cravou dos Órgãos na montanha horrenda
E na escura caverna, adonde Jove
(Outro espírito) espalha a luz tremenda,
Relâmpagos mil faz, coriscos chove;
Bate-se o vento em hórrida contenda,
Arde o céu, zune o ar, treme a montanha,
E ergue-lhe o mar em frente outra tamanha.

XI

O filho do trovão, que em baixel ia,
Por passadas tormentas ruinoso,
Vê que do grosso mar na travessia
Se serve o lenho pelo pego undoso.
Bem que, constante, a morte não temia;
Invoca no perigo o Céu piedoso,
Ao ver que a fúria horrível da procela
Rompe a nau, quebra o leme e arranca a vela.