Página:Caramuru 1781.djvu/22

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XXI

Vê-se no sexo recatado o pejo,
Sem mais que antiga gala que Eva usava,
Quando por pena de um voraz desejo,
Da feia desnudez se envergonhava;
Vão sem pudor com bárbaro despejo,
Os homens, como Adão sem culpa andava;
Mas vê-se, alma Natura, o que lhe ordenas,
porque no sacrifício usam de penas.

XXII

Qual das belas araras traz vistosas,
Louras, brancas, purpúreas, verdes plumas;
Outros põem, como túnicas lustrosas,
Um verniz de balsâmicas escumas.
Nem temem nele as chuvas procelosas,
Nem o frio rigor de ásperas brumas;
Nem se receiam do mordaz besouro,
Qual anta ou qual tatu dentro em seu couro.

XXIII

Por armas frechas, arcos pedras, bestas,
A espada do pau ferro; e por escudo,
As redes de algodão, nada molestas,
Onde a ponta se embace ao dardo agudo;
Por capacete nas guerreiras testas,
Cintos de penas com galhardo estudo;
Mas o vulgo no bélico ameaço,
Não tem mais que unha ou dente, ou punho ou braço.