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LXIII

Negou às aves do ar a natureza,
Na maior parte a música harmonia;
Mas compensa-se a vista na beleza
Do que pode faltar na melodia:
A pena no tucano mais se presa,
Que feita de ouro fino se diria,
Os guarazes pelo ostro tão luzidos,
Que parecem de púrpura vestidos.

LXIV

Vão pelo ar loquazes papagaios,
Como nuvens voando em copia ingente,
Iguais na formosura aos verdes Maios,
Proferindo palavras como a gente.
Os periquitos com iguais ensaios.
O canindé, qual Íris reluzente;
Mas falam menos, da pronúncia avaras,
Gritando, as formosíssimas araras .

LXV

Como melros, são negros os bicudos,
Mais destros e agradáveis no seu canto;
Na terra os sabiás sempre são mudos,
Mas junto d'água têm a voz que encanto.
Os coleirinhos no entoar agudos,
As patativas, que o saudoso pranto
Imitam requebrando com sons vários,
Os colibris e harmônicos canários.