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LXXVIII

A roda, à roda! a multidão fremente
Com gritos corresponde à infame idéia;
Enquanto o fero em gesto de valente
Bate o pé, fere o ar e um pau maneia,
Ergue-se um e outro lenho, onde o paciente
Entre prisões de embira se encadeia;
Fogo se acende nos profundos fossos,
Em que se torrem com a carne os ossos.

LXXIX

Dentro de uma estacada extensa e vasta,
Que a numerosa plebe em torno borda,
Entram os principais de cada casta
Com belas plumas, onde a cor discorda;
Outros, que a grenha têm com feral pasta
Do sangue humano, que ao matar transborda.
Os nigromantes são, que em. vão conjuro,
Chamam as sombras desde o Averno escuro.

LXXX

Companheiras de ofício tão nefando,
Seguem de um cabo a turma e de outro cabo,
Seis torpíssimas velhas, aparando
O sangue sem um leve menoscabo.
Tão feias são, que a face está pintando
A imagem propriíssima do diabo;
Tinto o corpo em verniz todo amarelo,
Rosto tal, que a Medusa o faz ter belo.