Página:Caramuru 1781.djvu/45

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XC

Era Sergipe, o príncipe valente,
Na esquadra valorosa, que atacava;
Verão entre os seus bom, manso e prudente,
Que com justiça os povos comandava.
Armava o forte chefe de presente
Contra Gupeva, que cruel reinava
Sobre as aldeias, que em tal tempo havia
No recôncavo ameno, da Bahia.

XCI

Por toda a parte o baiense é preso;
É trucidado o bruto nigromante;
Muitos lançados são no fogo aceso,
Rendem-se os mais ao vencedor possante.
Ficara em vida, todavia ileso
O mísero europeu, que ali em flagrante
Fez desatar o bom Sergipe e manda
À escravidão no seu país mais branda.

XCII

Mas a gente infeliz, no sertão vasto,
Por matos e montanhas dividida,
É fama que uns de tigres foram pasto,
Outra parte dos bárbaros comida.
Nem mais houve notícia ou leve rasto
Como houvessem perdido a amada vida;
Mas há boa suspeita e firme indício
Que evadiram o infame sacrifício.