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XII

Caiu com ele junta a brutal gente;
Nem sabe o que imagine da figura,
Vendo-a brandir com a alabarda ingente
E olhando ao morrião, que o transfigura.
Ouve-se um rouco tom de voz fremente,
Com que espantá-los mais o herói procura;
E porque temem da maior ruína,
Faz-lhe a voz mais horrenda uma buzina.

XIII

Entanto a gente bárbara, prostrada,
Tão fora de si está por cobardia,
Que sem sentido, estúpida, assombrada,
Só mostra viva estar porque tremia.
Quais verdes varas de árvore copada,
Se assopra a viração do meio-dia,
De uma parte à outra parte se meneiam,
Assim de medo os vis no chão perneiam.

XIV

Mas Diogo naqueles intervalos,
Suspendendo o furor do duro Marte,
Esperança concebe de amansá-los
Uma vez com terror, outra com arte.
A viseira levanta e vai buscá-los,
Mostrando-se risonho em toda a parte:
"Levantai-vos" (lhes diz), e, assim dizendo,
Ia-os co’a própria mão na terra erguendo.