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LXII

Quando na rede encosta o tenro infante,
Pinta-o de negro todo e de vermelho;
Um pequeno arco põe, frecha volante,
E um bom cutelo ao lado; e em tom de velho,
Com discurso patético e zelante,
Vai-lhe inspirando o paternal conselho:
Que seja forte, diz, (como se o ouvisse)
Que se saiba vingar, que não fugisse.

LXIV

Dá-lhe depois o nome, que apropria,
Por semelhança que ao infante iguala,
Ou com que o espera célebre algum dia,
Senão é por defeito que o assinala.
A algum na fronte o nome se imprimia,
Ou pintam no verniz, que tem por gala;
E, segundo a figura se lhe observa,
Dão-lhe o nome de fera, fruto ou erva.

LXV

Trabalho entanto a mãe sem nova cura,
Quando o parto conclui e em tempo breve,
Sem mais arte que a próvida natura,
Sente-se lesta e sã, robusta e leve:
Feliz gente, se unisse com fé pura
A sóbria educação que simples teve!
Que o que a nós nos faz fracos sempre estimo,
Que é mais que pena ou dor, melindre e mimo.