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XV

Sendo a mente mortal, tornara ao nada,
Ao apagar-se a luz no extremo dia.
E antes de ser punida ou premiada,
Uma alma justa ou ré pereceria.
sempre em desejos, nunca saciada.
Má sem castigo e sem fortuna pia,
Sem chegar ao seu fim perder a essência...
Como é crível que Deus tem providência?

XVI

Se o fim do inerte bruto se inquirisse,
No contexto das obras respondera
Que fora leito porque nos servisse
E que eterno destino não tivera,
Onde era bem que a morte destruísse
Quem para imortal fim nunca nascera;
Porque lhe dera, a tê-lo, o céu divino
Outro corpo, outra forma, outro destino.

XVII

Que o bruto elege, pensa, que discorre
Do que o vemos obrar fica evidente;
mas cada espécie a um curto fim concorre,
Sem órgão e aptidão com que outro intente.
O homem tudo quer, por tudo corre,
Tem órgãos para tudo e tudo sente;
Infinito em pensar e no que vejo
Maior que no pensar no seu desejo.