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XVIII

Tudo domina só, tudo governa,
Sem que a outro animal servir costume;
Toda outra espécie à sua, é subalterna,
E, se imortal nascera, fora um nome;
Arbítrio universal, razão eterna,
Capaz de receber o imenso lume,
E fora mais, se a morte o dissipara,
Que se céu, terra e inferno aniquilara."

XIX

Pasmado Diogo do que atento escuta,
Não crê que a singular filosofia
possa ser da invenção da gente bruta,
Mas a intérprete bela lhe advertia
que a antiga tradição o nunca interrupta,
Em cantigas, que o povo repetia,
Desde a idade infantil todos compreendem
E que dos pais e mães cantando o aprendem.

XX

Que eram pedaços das canções, que entoam
As que ouvia a Gupeva (e talvez tudo)
Que poético estilo doces soam
Feitas por sábios de sublime estudo.
Que alguns entre eles com tal estro voam,
Que envolvendo-se o harmônico no agudo,
Parece que lhe inflama a fantasia
Algum nume, se o há, da poesia.