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PREFÁCIO BIOGRÁFICO

donde derivava, e deu-se a uns funestos amores que Francisco Cardoso espiava com o zêlo de leal servo de seu infeliz amo.

Patente o delito, D. Gregório Taumaturgo, que, ao envés do seu apelido, não fazia o milagre de achar mulher honrada; rompeu na ruim deliberação de matar a sua, com as necessárias cautelas. Assim o fez, mediante peçonha, que a dilacerou em poucas horas de agonia. Rumorejou-se, ao tempo, naquela inopinada morte, e atribuiu-se a mêdo dos parentes de sua mulher a saída do conde para Castela, donde se repatriou em 1640.

Casou o conde, terceira vez, com D. Mariana de Alencastre, filha de D. Lourenço de Alencastre, comendador de Coruche, e de Inês de Noronha.

Foi D. Mariana de peregrina formosura, e a mais cantada dos poetas fidalgos daquele tempo. D. Gregório não estava já em anos de poesia nem de amores, para tanto insistir em terceira experiência. Frizava-lhe já menos mal o epigrama que D. Francisco Manuel de Melo lhe fizera a êle ou a outro de análogo sestro :

Semprônio se descasou
de Lésbia, dela tal ser ;
porém, nada escarmentou :
tomou Lívia por mulher,
sôbre ela logo gritou.
Júlio, o sogro, acode à filha,
bradam todos; e um doutor
quer pôr em paz a quadrilha,
dizendo que era o sabor
que se tomou da vazilha. [1]


  1. Obras metricas, pag. 234.