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CARTAS DE AMOR
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Murmurava contra a mediocridade da minha condição.

Imaginava muitas vezes que o amor, que parecias por mim, poderia de algum modo prejudicar-te.

Julgava, a meu parecer, que não te amava suficientemente; atemorizava-me a ira dos meus parentes contra ti.

Estava, enfim, em um estado tam lastimoso como aquele em que, presentemente, me acho.

Se me tivesses dado algumas provas da tua paixão, depois que estás ausente de Portugal, teria feito todos os esforços para sair também dêle, e disfarçada em outros trajos, ir encontrar-me contigo…

Ai! ¿que teria sido de mim se depois de chegar á França, tu ali de mim nenhum caso fizesses?

Que desordem! que desatino! que cúmulo de vergonha para a minha família, que tam cara me é depois que não te amo!

Bem vês que, a sangue frio, conheço que era possível chegar a ser ainda mais miserável e mais digna de comiseração do que o sou, e que ao menos te falo uma vez na vida de bom siso…

Quanto a minha moderação te será grata!

Quanto ficarás contente de mim!

Não quero sabê-lo…

Já te pedi de não tornar a escrever-me, e de novo te suplico com a maior instância o mesmo.

¿Acaso nunca fizeste alguma reflexão sôbre o modo por que me tens tratado?

¿Não te vem ao pensamento jàmais as muitas obrigações que me deves, com preferência a tôdas as pessoas do mundo?

Amei-te como uma louca!…