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Tu, fecunda illusão, vives comigo.
Pesa em vão sobre mim carcere escuro,
Eu tenho, eu tenho as azas da esperança:
Escapa da prisão do algoz humano,
Nas campinas do céu, mais venturosa.
Mais viva canta e rompe a philomela.

Devo acaso morrer? tranquilla durmo,
Tranquilla veio; e a fera do remorso
Não me pertuba na vigilia ou somno;
Terno affago me ri nos olhos todos
Quando appareço, e as frontes abatidas
Quasi reanima um desusado jubilo.

Desta bella jornada é longe o termo.
Mal começo; e dos olmos do caminho
Passei apenas os primeiros olmos.
No festim em começo da existencia
Um só instante os labios meus tocaram
A taça em minhas mãos ainda cheia.

Na primavera estou, quero a colheita
Ver ainda, e bem como o reio dos astros,
De sazão em sazão findar meu anno.