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CONTOS MARANHENSES



Chegou a noite, enfim, do casamento
Que era na egreja do Recolhimento,
Egrejinha modesta
Expressamente ornada para a festa
Pelo Joaquim Sirgueiro,
Que foi naquellas artes o primeiro.
O templo estava cheio
Quer de curiosos, quer de convidados.
Que mistura! no meio
De graves figurões encasacados
E damas de vestidos decotados,
Abrindo enormes leques, —
Negros sebentos, sordidos moleques!

A noiva estava pallida e tremente,
Mas linda. Realmente
Era pena que flor tão melindrosa
Fosse colhida por um brutamontes,
Que na vida outros vagos horizontes
Não via além da Praça...

Na egreja se ouviria o som de uma asa
De insecto, quando o padre bem disposto,
A’ noiva perguntou: — E’ por seu gosto
E por livre vontade que se casa?
Imaginem que escandalo! A menina,
Com voz firme, sonora, crystallina,
Respondeu: — Não, senhor! Um murmurio
Corre por toda a egreja, e um calefrio
Pelo corpo do Souza,
Que o turvo olhar do chão erguer não ousa!