Página:Historias e sonhos - contos (1920).djvu/161

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- Qual é? perguntou o outro.

- "O burguês bebe champanha; o herói bebe aguardente".

- Essas duas sentenças cobiçadas deviam dar resultados surpreendentes.

- Deram como tu sabes, mas eu te quero contar uma que tu não sabes.

- Duvido.

- Pois vais ver.

- Não acredito, pois sei todas as tuas proezas desse tempo.

- Essa proeza, porém, não é minha; é de outro ou de outra.

- Que outra?

- Conheceste a Alzira?

- Sim! Aquela vagabunda que ia á casa do "Guaco", na rua do Carmo.

- É isso mesmo: aquela vagabunda que ia à casa do "Guaco", na rua do Carmo. É isso.

- Homem! Pelo modo por que falas, parece que tiveste paixão por ela...

- Não tive paixão, mas sou-lhe grato.

- Por quê?

- Lembras-te bem que ela bebia conosco calistos de "Guaco".

- Lembro-me bem.

- E que ela tivera um passado de lustre, de opulência, no alto mundanismo?

- Perfeitamente. Contudo, Frederico, eu penso que ela exagerava um pouco.

- É verdade. Aquele caso que ela nos contou de ter perdido uma noite, não sei em que jogo, em São Paulo, oitenta contos, não me parece verossímil; entretanto...

- Não é só isso. Todas as sumidades da República haviam sido seus amantes. Ora, isso não é possível, porquanto muitas delas, quando começaram, eram pobretões que não podiam aspirar a semelhante "objeto de luxo".