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O meu captiveiro entre

era portuguez, mas allemão e estava naquella terra graças ao naufragio do navio espanhol que me trouxera. Pedi-lhe que explicasse isto aos indios e que me apresentasse como um parente e amigo a quem vinha buscar.

Eu receiava que se o francez não procedesse assim os selvagens me suspeitassem de charlatanismo e se vingassem. Porisso fiz-lhe ainda uma admoestação em lingua da terra, perguntando se não lhe batia no peito um coração de christão e se tanto esquecera que além desta vida ha uma outra a ponto de recommendar aos selvagens que me comessem.

O francez mostrou-se arrependido e explicou-me que de facto me julgara portuguez, gente ruim a quem os selvagens não poupavam, e, como francez que era, via-se forçado a fazer causa commum com os indigenas contra esse inimigo hereditario.

Tudo mudou depois da conferencia e o francez foi falar a meu favor com os indios. Disse-lhes que da primeira vez não me reconhecera, mas agora via que eu era da Allemanha e amigo dos francezes, pelo que desejava levar-me comsigo.

Os indios, entretanto, declararam que não me deixariam ir com ninguem, a não ser com meu pae ou algum meu irmão que viesse resgatar-me com um navio cheio de machados, facas, tesouras, pentes