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O meu captiveiro entre

rer, nú como estava, para o sitio onde tinham suas canoas.

Chegando ao mar vi, á distancia de uma pedrada, duas canôas que os indios tinham varado em terra para debaixo de uma moita. Rodeavam-nas muitos selvagens, que, quando me avistaram daquelle modo conduzido, correram ao meu encontro, mordendo os braços como a indicar que iam devorar-me.

Deante de mim postou-se o morubichaba,[1] armado da clava com que matam os prisioneiros. Fez um discurso e contou aos outros como re haviam apanhado, e assim escravisado um pero[2] para se vingarem da morte dos seus.

Levaram-me depois para as canôas, com algumas bofetadas pelo caminho, e apressaram-se em pol-as a nado, receiosos de que na Bertioga já estivessem alarmados com a minha ausencia. Antes, porém, de arrastarem as canôas amarram-me as mãos.

Como não fossem todos esses indios da mesma taba puzeram-se a disputar sobre a minha posse; por fim foi proposto que eu fosse trucidado e cada qual levasse um quinhão da minha carne. Eu orava, esperando o golpe fatal, mas o cacique declarou

  1. Chefe indigena, cacique.
  2. Os indigenas chamavam os portuguezes peros, e aos fracezes mair.