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O meu captiveiro entre

Comprehendi o que elle dissera e pedi pelo amor de Deus que não deixasse os indios me devorarem. Mas o homem respondeu apenas:

— Elles querem te comer.

Lembrei-me de Jeremias, cap. 17, onde diz: “Maldito seja o homem que nos outros homens confia”, e d'alli sahi com um grande peso no coração.

Eu tinha nos hombros um panno de linho que me haviam dado (d'onde teria vindo?) e que eu usava para resguardar-me do sol que me castigava muito. Arranguêi-o do corpo e lancei-o aos pés do francez, exclamando:

— Se tenho de perecer, para que zelar da minha carne em proveito dos outros?

Conduziram-me de novo á cabana; deitei-me na rêde e Deus sabe como me aflligi! Depois cantei o psalmo: Sanctum precemur Spiritum, etc.

Os indios ao ouvil-o disseram:

E' portuguez legitimo; está agora a lamentar-se e tem medo da morte.

— O francez ficou dois dias na taba e foi-se no terceiro.

Os indios, então, determinaram que se fizessem os preparativos para o meu sacrificio, guardando-me muito bem e escarnecendo todos de mim, velhos e moços.