Página:Meu captiveiro entre os selvagens do Brasil.pdf/88

Wikisource, a biblioteca livre
82
O meu captiveiro entre

O morubichaba redarguiu que tambem eu era portuguez, como lhe dissera "seu filho" o francez. visto como não entendia a lingua dos francezes.

— Sim, é verdade; estive muito tempo fóra da terra dos francezes e esqueci a lingua.

Cunhambebe disse então que já tinha capturado e comido cinco portuguezes, e que todos mentiram.

Comprehendi que só me restava recommendar minh'alma a Deus, pois tinha de perecer.

Cunhambebe continuou, perguntando o que os portuguezes diziam de si e se o temiam.

— Sim falam muito de ti e das guerras que tu lhes costumas fazer, e porisso fortificam melhor a Bertioca.

— Hei de caçal-os como caçaram a ti no matto, redarguiu o chefe.

— Teus verdadeiros inimigos, accrescentei, são os tupiniquins, que preparam vinte e cinco canôas para atacar tua gente.

Muito mais coisas perguntou-me e lhe respondi, sempre ouvidos pelos presentes alli de pé.

Cunhambebe regosijava-se dos muitos portuguezes e selvagens inimigos que havia morto.

Emquanto isso se passava, acabou-se o cauim da cabana e os indios mudaram-se para outra, pondo fim á minha entrevista com o grande chefe.