Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/267

Wikisource, a biblioteca livre

pálio dobrava a esquina para o lado da Sé), informado desta delicadeza do senhor pároco, declarou logo que visto que o colega Amaro vinha fazer a noitada, ele ia descansar o corpo porque, Deus bem o sabia, aquelas comoções arrasavam-lhe a saúde.

— E a senhora não havia de querer que eu apanhasse alguma, e me visse nos mesmos assados...

— Credo, senhor cônego! exclamou a S. Joaneira, nem diga isso!...

— E começou a choramingar, muito abalada.

— Pois então boas noites, disse o cônego, e nada de afligir. Olhe, a pobre criatura, alegria não a tinha: e como não tem pecados não lhe importa achar-se na presença de Deus. Tudo bem considerado, senhora, é uma pechincha! E adeusinho, que me não estou a sentir bem...

Também a S. Joaneira não se sentia bem. O choque, logo depois do jantar, dera-lhe ameaças de enxaqueca: - e quando Amaro voltou, às onze, Amélia que fora abrir a porta, disse-lhe, ao subir à sala de jantar:

— O senhor pároco desculpe... A mamã veio-lhe a enxaqueca, coitada... Estava que nem via... Deitou-se, pôs água sedativa e adormeceu...

— Ah! deixá-la dormir!

Entraram no quarto da entrevada. Tinha a cabeça virada para a parede; dos seus beiços abertos saía um gemido muito débil e contínuo. Sobre a mesa agora, uma grossa vela benta, de morrão negro, erguia uma luz triste; e ao canto, transida de medo, a Ruça, segundo as recomendações da S. Joaneira, ia rezando a coroa.

— O senhor doutor, disse Amélia baixo, diz