Página:Os trabalhadores do mar.djvu/524

Wikisource, a biblioteca livre
— 52 —

eram terrificos, os relampagos aproximava-se em torno de Gilliatt. O abysmo parecia espantado. Gilliatt andava na Durande fazendo tremer o tombadilho debaixo dos pés, batendo, cortando, rachando, machado em punho, livido diante dos relampagos, esguedelhado, descalço, rôto, com a face coberta dos escarros do mar, grande naquella sentina de trovões.

Contra o delirio das forças, só a destreza póde luctar. A destreza era o triumpho de Gilliatt. Elle queria uma queda de todo o destroço deslocado. Por isso enfraqueceu as fracturas sem rompel-as completamente, deixando algumas fibras que sustentavam o resto. Subitamente parou com o machado no ar, a operação estava acabada. Todo o pedaço destacou-se.

Essa metade do casco rolou entre as duas Douvres abaixo de Gilliatt, que ficou em pé n’outra metade inclinado e olhando; mergulhou-se perpendicularmente, arrombou os rochedos e parou na garganta antes de chegar ao fundo. Ficou uma parte fora d’agua, tanto quanto era sufficiente para dominar a onda mais de doze pés; foi mais uma barricada entre as duas Douvres; bem como a rocha atirada no estreito, deixava apenas filtrar um pouco de espuma nas suas extremidades, e foi essa a quinta barricada improvisada por Gilliatt, contra a tempestade, naquella rua do mar.

O furacão, cégo, trabalhava a ultima.

Foi uma felicidade que o angustiado das paredes internas impedisse de ir ao fundo aquella tapagem. Dava-lhe mais altura; demais a agua podia passar por baixo do obstaculo, o que affectava a força das ondas. Aquillo que passa por baixo não salta por