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Já vai bem longe a quadra da innocencia,
Dos brincos e dos risos descuidosos;
Lá s’embrenhão nas sombras do passado
Os da infancia dourados horizontes.
Oh! feliz quadra! — então eu não sentia
       Roçar-me pela fronte
A aza do tempo estragadora e rapida;
E este dia de envolta com os outros
Lá s’escoava desapercebido;
Ia-me a vida em sonhos prazenteiros,
       Como ligeira briza
Entre perfumes leda esvoaçando.
Mas hoje que cahio-me a venda amavel
Que as miserias da vida me occultava,
       Eu vejo com tristeza
O tempo sem piedade ir desfolhando
       A flôr dos annos meus;
Vai-se esgotando a urna do futuro
Sem do seio sahir-lhe os dons sonhados
Na quadra em que a esperança nos embala
       Com seu fallaz sorriso.

       Qual sombra vã, que passa
Sem vestigios deixar em seus caminhos,