Página:Ursula (1859).djvu/176

Wikisource, a biblioteca livre

o coração de ciúme. Só o teu sangue poderá purificá-la ante mim, que jurei esposá-la. Prepara-te para morrer!...

— Covarde!... Miserável assassino – exclamou o mancebo atirando-se sobre o seu adversário. – Respeita ao menos a pureza de Úrsula, não calunies a sua inocência.

Luta desesperada travou-se entre ambos. Os asseclas do comendador agarraram Tancredo pelas costas, e o covarde comendador embebeu-lhe no peito o punhal que trazia na mão.

— Mataste-me! – exclamou o infeliz Tancredo. — Farta-te de sangue, fera indômita e cruel! Mas eu te juro à hora suprema da minha existência que Úrsula não será tua esposa.

Fernando P., essa menina, que jaz desfalecida, ama-me muito para poder esquecer-me; e odeia-te demais para poder perdoar-te. O teu amor será a punição do teu crime.

Entretanto Fernando, vitorioso e triunfante, uivava de feroz alegria, e vociferou rangendo os dentes:

— Mentes! Mentes! Olha-a pela derradeira vez; não é ela formosa como um anjo? Não é assim? Achei-a também, amei-a, rendi-lhe um culto de louca adoração, e agora é minha. Amaste-a, Tancredo? Amou-te ela? Oh! Há de amar-me também, quando tuas cinzas já frias no sepulcro lhe não recordarem tua passada ternura.

E o infeliz Tancredo, no último transe de sua íntima agonia, estendeu os braços e exclamou com delírio amoroso:

— Úrsula! Minha Úrsula!

Então a donzela despertou de seu dorido letargo, abriu