Estava agora face a face com Tancredo, que desarmado só podia esperar a morte fria e cruel que lhe preparava seu implacável inimigo.
E vendo a esposa desmaiada aos pés do comendador, abaixou-se e tomou-a em seus braços.
E essa beleza adormecida e pálida como o lírio do vale, parecia sorrir-lhe com celeste meiguice, e o jovem esposo, transportado de amor e de aflição, imprimiu nesses lábios de voluptuosa perfeição um beijo ardente com que parecia ir-lhe a vida – era o seu último adeus.
Ao contato desses lábios amados, ela abriu seus grandes olhos alquebrados pela dor, e com um olhar que exprimia a mais singular e indefinível ternura, pareceu dizer-lhe:
— Amo-te!
Depois esses dois astros de amor, que guiavam ainda no perigo, ou nas trevas da desesperação, ao infeliz mancebo, recaíram em seu lânguido torpor.
Esse beijo foi a expressão profunda de tão sublime amor: foi o primeiro, o casto e puro ósculo de amor, que o comendador jurou ser o derradeiro.
Esse ósculo pareceu-lhe insultuosa ofensa: rangeu os dentes de raiva, e arremessando-se contra o seu odioso rival, arrancou-o com força do ódio dos braços de sua jovem esposa.
— Vingança! – bradou – Vingança! É a hora da vingança. Julgavas que eu a tinha esquecido? Louco! Não sabes que a essa mulher, que amaste, eu dei a alma e o coração, e que jurei que há de ser minha?
Roubaste-ma e envileceste-a a meus olhos! Cuspiste-me a face, e nodoaste-a com o teu amor impuro!... Poluíste-a com o teu hálito... Tancredo, esse ósculo trespassou-me