Página:Ursula (1859).djvu/187

Wikisource, a biblioteca livre

sacerdote; mas vendo que ele terminara aconselhando-o, redarguiu-lhe com desalento:

— Levai-me aonde está ela... há tanto tempo que a não vejo.

O velho sacerdote sentiu-se vivamente comovido ao aspecto desse homem cheio de crimes e de maldições, e a quem os remorsos tinham envelhecido de repente.

Ele conheceu que o arrependimento principiava a operar-se naquela alma rebelde. Tomou-lhe as mãos secas e ardentes, e o foi guiando até os aposentos da donzela. Mas Fernando P. estacou no limiar da porta, não se atrevendo a entrar.

A cena que se apresentou a seus olhos quebrou-lhe o coração de angústias.

Úrsula sorria, afagando invisível sombra, mas esse sorriso era débil e vaporoso – era o derradeiro esforço de uma alma que está prestes a quebrar as prisões do corpo.

O comendador fechou os olhos, e agarrou-se à porta para não cair.

E ela, como se a ninguém visse, murmurava em voz baixa, e depois tornava a sorrir-se.

— Vem – disse com voz débil, mas repassada de ternura, – tanto tempo há que te procuro embalde.

Tancredo! Porque me fugias? Onde estavas?

Espera... agora me recordo. Túlio disse-me que muito longe te levava não sei que negócio urgente!... E eu sentia a dor da separação; porque era já longa, e triste.

E depois tirando dos cabelos uma florzinha seca, última que lhe restava da capela, beijou-a, e sorriu-se com ternura.