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— Vae caçar?

— Antes fosse. Vou cuidar do enterro.

—Enterro?

— Pois morreu a menina, a Annica.

— Pobresinha! De que?

— A gente sabe? Morreu de morte.

Estupido!

Sem querer dirijo-me para a casa delle. Não gosto da Veva. E' horrenda, beiço rachado, olhar máu, e aquelle papo!

— Então Nha, morreu a menina? Soube-o ainda agora pelo Pedro...

— E'.

Que resposta secca!

— E de que morreu?

— Deus é que sabe.

Peste!

E como a atrevidaça me olha duro!

Sinto-me mal em sua presença.

— Adeus, Sycorax!

Para alguma coisa sirva a literatura...


Arrepio caminho, entristecido.

A manhan vae alta, já cru'a de luz.

O sol estupido, o azul de irritar.

Que é dos aranhóes?

Sumiram-se com o orvalho que os visibilisa.

Estão agora invisíveis a apanhar os insectos incautos que Nha Veva Aranha devora.

A paisagem perdeu o encanto da frescura e da bruma.

Está um logar commum.

Não vejo flores nem passaros.

O excesso de luz dilue as flôres, o calor esconde as aves.

Só um cará-cará resiste ao mormaço empoleirado num esgalho de perobeira. Está de tocaia aos pintos do Urunduva, o rapinante.