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tar, porque é duvidoso existir naquella sertania exemplar mais truculento de gamelleiro.

Eu, de mim, confesso, fiz as tres coisas.

O camarada respondeu á terceira:

— Não vê que é um mata-páu.

— E que vem a ser o mata-páu?

— Não vê que é uma arvore que mata outra. Começa, quer ver como? — disse elle escabichando as frondes com olhar agudo em procura d'um exemplar typico — está ali um!

— Onde? perguntei eu, tonto.

— Aquelle fiapinho de planta ali no gancho d'aquelle jacaré, contínuou o cicerone, apontando com dedo e beiço uma parasita humilde, grudada na forquilha de um galho, com dois filamentos pendurados, oscillantes ás brisas.

— Começa "assimzinho", meia duzia de folhas piquiras; bóta p'ra baixo esse fio de barbante na tenção de pegar a terra. E vae indo, sempre n'aquillo, nem p'ra mais, nem p'ra menos, até que o fio alcança o chão. E vae então o fio vira raiz, e pega a beber a sustancia da terra. A parasita cria folego, e cresce que nem embau'va. O barbantinho engrossa todo o dia, passa a cordel, passa a corda, passa a pau de caibro e acaba virando tronco de arvore e matando a mãe, como este guampudo, — concluiu dando com o cabo do relho no meu gamelleiro.

— Com effeito! — exclamei. E a arvore deixa?

— Que é que ha de fazer? Não desconfia de nada, a boba. Quando vê no seu galho uma isca de quatro folhinhas imagina que é parasita, e não se precata. O fio, pensa que é cipó. Quando a malvada ganha alento, e garra de engrossar, é que a arvore sente a dôr dos apertos na casca. Mas é tarde. O poderoso