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ARDENTIAS
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E é bem melhor a morte quando fere
De chofre, em cheio, o peito de um valente
Do que quando se achega rastejante
Do solitario leito de um enfermo.

Emquanto o enfermo, estenuado e pávido,
Gota a gota distila o fel da vida
E suspiro a suspiro o alento ezala,
Num largo sopro e num arranco heroico
Nossa vida se esvái, e nosso espirito
O vôo eleva para a eternidade.

Do que inutil morreu no fôfo leito
— Escravo sempre — o livido despojo
Na estreita cova ficará cativo
Té que o liberte a lama, apodrecendo-o.

A nós, quando caimos, na surpreza
De um belo golpe, de uma bala rapida,
Na gloria do combate, na apoteóse
Dos clarões da metralha; a nós, vencidos,
Como rubra mortalha, o proprio sangue,