Qual será rei? (edição de 1877)
Morreu uma vez um rei, deixando quatro filhos, e sem ter designado o successor. Reuniu-se a côrte, e decidiu-se que a corôa devia pertencer, não ao mais velho dos quatro filhos, mas sim ao mais digno.
Resolveram além d'isso que o cadaver do rei fosse posto de pé contra um muro, e que o principe que acertasse melhor com uma flecha n'aquelle alvo, seria o escolhido para successor.
Começou o mais velho. Esticou a corda do arco, apontou durante muito tempo, e a flecha foi atravessar a mão esquerda do defuncto. O principe soltou grito d'alegria, cuidando que seus irmãos atirariam peór, e que por conseguinte seria elle quem viria a reinar.
O segundo acertou em cheio na cara do rei, soltando um grito ainda mais alegre do que o outro principe.
O terceiro varou o coração de seu pae, e os seus gritos de triumpho quasi que chegavam ao céo, porque lhe parecia impossivel acertar melhor.
Quando chegou a vez do quarto filho, tiveram de lhe metter nas mãos as flechas e o arco: mas, desde que olhou para o alvo, arrojou as armas longe de si, e desatou a chorar:
— «Oh! meu pae! meu querido pae! exclamou elle, como poderei eu jámais consolar-me de ver o teu corpo crivado de flechas pela mão de teus proprios filhos!»
Os grandes da côrte ouvindo isto proclamaram-n'o rei, como sendo o mais digno.