Poesias de Sá de Miranda (1885)/Parte Quarta/Soneto XXXI

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141.

Soneto XXXI.


Quando eu, senhora, em vos os olhos ponho
E vejo o que não vi nunca, nem cri
Que houvesse ca, recolhe se a alma a si
E vou tresvaliando como em sonho.

5Isto passado, quando me desponho
E me quero afirmar se foi assi,
Pasmado e duvidoso do que vi,
M’espanto ás vezes, outras m’avergonho.

Que, tornando ante vos, senhora, tal,
10Quando m’era mister tant’ outra ajuda,
De que me valerei se a alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
(E não me acode, e está cuidando em al!)
Afronta o coração, a lingua é muda.


Texto: A f. 14 v. — Var.: B f. 4. — 3 B em si. — 4 E vai. — 8 me envergonho. — 10 Quando havia mister. — 13 acode, está.